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Brasil

Volta às aulas 2022: com expectativas, desafios e cuidados

De acordo com levantamento feito pelo G1, fevereiro é o mês de volta às aulas para a maioria das redes estaduais e municipais de educação do Brasil. No estado de São Paulo, por exemplo, as(os) estudantes retornaram às escolas ontem (dia 2/2). Apenas Amapá, Mato Grosso do Sul, Pará e Acre retomam as aulas em março e abril. Em Rondônia, a data ainda está indefinida.

Na última Pesquisa Undime Educação na Pandemia, realizada entre outubro e novembro de 2021 com 2.851 municípios brasileiros, 81% das redes disseram que o calendário letivo de 2022 se iniciaria em fevereiro.

Mas, se no final do ano passado o planejamento da maioria das redes era pelo retorno 100% presencial, com a nova variante Ômicron do coronavírus causando crescentes picos de contaminações desde janeiro, hoje em dia elas precisam estar atentas e abertas para se adaptar às novas incertezas da pandemia.

Como alerta Luiz Miguel Martins Garcia, presidente da Undime e dirigente municipal de educação de Sud Mennucci (SP):

“Muita coisa mudou nesse último mês com essa nova onda, grande e significativa, de Covid-19. Ela virou de cabeça pra baixo o que a gente vinha estruturando e planejando. Por isso, é importante que as redes tenham segurança para fazer os ajustes necessários e coragem para dialogar com as famílias e o sistema.” Luiz Miguel Martins Garcia

Para Luiz Miguel, as incertezas devem continuar nos próximos meses, considerando as notícias sobre a nova subvariante BA.2 da Ômicron, que seria possivelmente mais transmissível.

“Por outro lado, não tem nenhum movimento grande de especialistas da área sanitária ou da nossa parte de adiar ou impedir o retorno das crianças às escolas. Nosso trabalho hoje é no sentido de buscar condições para garantir essa volta com segurança: cumprindo protocolos e tomando todos os cuidados necessários. Sem radicalizar. O nosso grande desafio é ter o foco de que não dá para postergar o acesso das crianças à escola de forma presencial, mas sem colocar vidas em risco. Só vejo uma mudança nesse quadro se houver realmente um agravamento local muito grande, e isso depende muito de cada rede de ensino.” Luiz Miguel Martins Garcia

A escola e a vacinação

Uma das medidas que têm trazido alento em meio a esse novo momento da pandemia é o avanço da vacinação contra a Covid-19, principalmente entre as crianças de 5 a 11 anos, que começou somente na segunda quinzena de janeiro.

Ainda que tenha aprovação da Anvisa e diversas pesquisas atestem a segurança da imunização nessa faixa etária, há familiares que têm resistido a vacinar suas crianças.

Pensando nisso, o Comitê Científico do Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI) lançou ontem (dia 02/02) uma nota científica que traz evidências e pesquisas que reforçam a importância da imunização infantil contra a Covid-19:

“Em diversos outros países, o crescente número de casos de Covid-19 em crianças e adolescentes não vacinados tem chamado a atenção com situações graves e fatais, o que justifica a urgência de sua vacinação – além de as crianças também constituírem uma parcela importante da população para construir a barreira imunológica da Covid-19.” NCPI

O grupo de pesquisadoras(es) que assina o documento ainda chama atenção para a importância do papel da escola nesse processo:

“Destaca-se a importância da atuação de gestores públicos e profissionais da saúde e da educação para enfatizar um ambiente de cuidado sensível às necessidades das crianças e o envolvimento responsivo dos cuidadores parentais. Suas ações podem minimizar desconhecimentos e incertezas sobre a eficácia e a segurança da vacina contra a Covid-19 em crianças, suprimindo notícias falsas e reduzindo danos e prejuízos às crianças e às famílias.” NCPI

Alguns estados, como São Paulo, determinaram a apresentação do comprovante de vacinação às escolas. As crianças não serão impedidas de frequentar a escola, caso não tenham sido vacinadas, mas, se o documento não for apresentado em 60 dias, a escola deverá notificar o Conselho Tutelar, o Ministério Público e as autoridades sanitárias.

Anna Helena Altenfelder, presidente do Conselho do Cenpec, apoia a medida e acredita que a escola pode ir além, iniciando uma conversa e um trabalho de conscientização com a comunidade escolar:

“Tanto a Constituição quanto o Estatuto da Criança e do Adolescente apontam para a obrigatoriedade de imunização das vacinas incluídas no Programa Nacional de Imunização e, inclusive, a notificação do Conselho Tutelar caso ela não ocorra. Então é legítimo que a escola peça a comprovação, é um direito que ela tem. Mas mais do que um trabalho de coerção, essa é uma boa oportunidade para fazer um trabalho de esclarecimento, de convocação com as famílias que não estão vacinando seus filhos para que entendam as consequências de suas decisões para a saúde pública coletiva.” Anna Helena Altenfelder

Desafios e prioridades

Lidar com a desinformação que existe a respeito da pandemia e da vacinação não é o único desafio que as escolas e seus(suas) profissionais têm tido que lidar nesse retorno. Com tantas pessoas sendo contaminadas, a preocupação de muitas redes de ensino tem sido também a falta de pessoal.

“Temos visto muitas escolas com funcionários em licença médica, em um vai-e-vem de profissionais. Essa incerteza sobre se terão gente suficiente para atender as crianças no retorno tem sido um grande desafio”, relata Luiz Miguel.

Para que a escola seja um ambiente seguro, o presidente da Undime reforça a importância de as equipes estarem sempre atualizando os protocolos sanitários e garantindo o uso de máscaras, o distanciamento social e a higiene das mãos.

Para Anna Helena, este momento de retorno às aulas deve priorizar o acolhimento das crianças e profissionais de educação, levando em conta tudo o que se passou nos últimos dois anos de pandemia:

“O primeiro movimento na volta às aulas deve ser na direção da socialização, de resgatar o pertencimento das crianças ao mundo escolar, o vínculo com a escola, e a socialização entre os pares. Deve-se acolher as crianças ouvindo e compreendendo tanto as boas como as más experiências que viveram na pandemia”. Anna Helena Altenfelder

A educadora acredita que é preciso enxergar o que essas experiências trouxeram às crianças, em termos de possibilidade de aprendizado e desenvolvimento, e que evidenciam que os últimos dois anos não foram totalmente perdidos:

“Sem dúvida, as crianças tiveram prejuízos causados pela pandemia, mas não são irreversíveis. É preciso ter clareza das coisas que aconteceram e ao mesmo tempo confiança na potencialidade de um bom trabalho pedagógico. Sim, tivemos perdas, que precisamos considerar, mas é possível um trabalho pedagógico para resgatá-las.” Anna Helena Altenfelder

Além de olhar para a comunidade local no acolhimento, Luiz Miguel acredita que as escolas devem se debruçar sobre o processo de avaliação diagnóstica:

“É importante que estejam todos atentos ao que foi feito e ao que precisa ser feito para efetivamente garantir que as(os) estudantes aprendam, de modo a reorganizar a recuperação de aprendizagem.” Anna Helena Altenfelder

Fonte/Imagem: Cenpec

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