Saiba como foi o quarto dia do 8º Fórum Nacional Extraordinário da Undime
Humor e clima leve e descontraído, assim teve início o quarto dia do 8º Fórum Nacional Extraordinário dos Dirigentes Municipais de Educação, nesta quinta-feira, 10 de dezembro. O comediante Daniel Villas Bôas, da Cia de Comédia Setebelos, ficou responsável pela abertura do evento.
Promovido pela Undime, o Fórum acontece no formato virtual, até sexta-feira (11), por meio de videoconferências, em função das medidas de isolamento social decorrentes da pandemia do coronavírus.
Todos os dias, pela manhã e início da tarde, a programação está voltada para as atividades da feira virtual, cujo acesso é livre, ou seja, toda e qualquer pessoa, inscrita ou não no Fórum, pode acessar. Ainda dá tempo de conferir a programação e participar! (saiba mais aqui) À tarde, a partir das 16h (horário de Brasília), tem início as palestras do Fórum.
Confira os destaques do dia!
Processos necessários para garantir a efetividade da alfabetização
O dia começou com o debate sobre alfabetização que contou a participação de Carlos Nadalim, secretário de Alfabetização do Ministério da Educação; Isabel Frade, professora e pesquisadora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale/UFMG); Marcia Baldini, vice-presidente da Undime PR e Dirigente Municipal de Educação de Cascavel (PR); e Alessandra Seabra, psicóloga e especialista em Primeira Infância. A mediação ficou a cargo da professora Katia Santos, Dirigente Municipal de Educação de Marituba (PA) e presidente da Undime PA.
O secretário Nadalin falou sobre as inciativas do governo federal para a alfabetização e citou ações como a Política Nacional de Alfabetização; a 1ª Conferência Nacional de Alfabetização baseada em evidências; o Programa Conta pra Mim, que tem por objetivo conscientizar famílias sobre as práticas de linguagem; o Programa Tempo de Aprender, iniciativa voltada para o aperfeiçoamento de professores e gestores escolares do último ano da pré-escola e do 1º e 2º anos do ensino fundamental; e o curso on-line Alfabetização Baseada na Ciência (ABC), lançado essa semana pelo Ministério da Educação em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Já a representante do Ceale fez uma fala mais voltada para as dificuldades do processo de alfabetização neste momento de pandemia. “Desconhecemos um método que alfabetize a distância e sem recursos de alguma individualização e mediação para compreender como as crianças reagem como aprendizes. No começo da pandemia, e até agora, um tema dos mais difíceis no ensino remoto foi o da alfabetização”, disse Isabel Frade.
Para ela, a questão é um campo de incertezas, mas há uma disposição por parte dos profissionais em encontrar soluções. Ao tempo em que professores e redes têm se desdobrado, ela pondera que há uma gama de fontes e materiais, mas que é preciso atingir igualmente as crianças a serem alfabetizadas. Falta de acesso às crianças para realizar mediações necessárias, desigualdade de recursos, natureza da alfabetização que exige mediação constante, pouca autonomia das crianças para a realização das atividades nas quais é preciso ler e escrever são alguns dos fatores que dificultam esse processo.
Márcia Baldini, que é Dirigente de Educação de Cascavel (PR) também avalia que a alfabetização é uma questão complexa nesse contexto de pandemia. Para ela, a formação dos professores é um dos fatores mais importantes para garantir o processo de ensino aprendizagem e é necessário, principalmente neste momento, uma parceria muito grande com o ensino superior para essa retomada das aulas. “Considero que para 2021 muitas práticas que professores ainda têm, devem ser repensadas. É necessário investir no professor para colhermos bons frutos e resultados”.
Reestruturação da oferta da educação de jovens e adultos para evitar evasão escolar
A segunda mesa abordou a oferta da educação de jovens e adultos (EJA) para evitar evasão escolar. A partir da mediação de Valkíria Trindade, ex-Dirigente Municipal de Educação de Maringá (PR) e vice-presidente da Undime Região Sul entre 2017 e 2018, o debate contou com a participação do professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), André Lázaro; da professora da Universidade Federal de Minas Gerais e membro do Fórum Mineiro de EJA, Analise Silva; e do diretor de Políticas e Diretrizes da Educação Básica do Ministério da Educação, Helber Vieira.
Coincidência ou não no dia 10 de dezembro comemora-se o Dia Internacional dos Direitos Humanos. A data é marcada pela proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em Paris, na França. Lázaro lembrou da data ao afirmar que a Educação de Jovens e Adultos não é uma questão emergencial, ela é um direito, é a porta de entrada, um regresso para o mundo da educação, as oportunidades de aprendizado. Diante do atual contexto, disse que muitas pessoas abandonaram a escola não porque quiseram, mas por necessidade de buscar um auxílio e que o público mais prejudicado, que mais sofre, são as mulheres.
Ele destacou ainda que o Plano Nacional de Educação (Lei 13.005/2014) é fundamental e sempre deve ser lembrado, pois aponta caminhos e estratégias para a EJA. “Não é preciso inventar a roda, o PNE está aí!”. Além disso, ressaltou a importância do fortalecimento do regime de colaboração para implementar as ações e melhorar a qualidade da educação e fez um alerta “antes de culpar os jovens e adultos por não estarem presentes na sala de aula, vamos pensar se estamos fazendo a oferta correta”.
O representante do Ministério da Educação contou que o Conselho Nacional de Educação aprovou nesta quinta (10) as diretrizes operacionais para a Educação de Jovens e Adultos. A proposta da pasta era referente a necessidade de adequação da EJA à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), considerando as peculiaridades do público alvo e do processo pedagógico adequado para lidar com as características educacionais específicas.
Já Analise Silva trouxe à tona dados que revelam que o Brasil possui 14,1 milhões de pessoas não alfabetizadas com 15 anos ou mais, 52 milhões de pessoas com 15 anos ou mais sem Ensino Fundamental e 22 milhões de pessoas com 18 anos ou mais sem Ensino Médio.
Segundo a professora da UFMG, para alertar ao público da EJA de que eles têm direito à educação, deveria ser realizada uma grande chamada pública aos educandos, de alfabetização e de continuidade de estudos, feita pelo gestor, por meio de propaganda da TV a ser divulgada em horário nobre; em rádio em horários adequados, sites oficiais; durante jogos de futebol; pelos Correios por meio de Carta Social, bem como pelos líderes religiosos. Para ela, esse público é sujeito de direitos e precisa ser informado.
Analise elencou ainda pontos importantes que devem ser prioridade quando se fala sobre esse assunto: a elaboração da Base Nacional Comum da EJA, formação inicial de educadores, isonomia do fator de ponderação no Fundeb, criação e ampliação de novas turmas de alfabetização etc.
Curriculum continuum: como reorganizar os currículos e os projetos político-pedagógicos
Para fechar a noite do quarto dia do Fórum Katia Smole, diretora do Instituto Reúna, e Anna Penido, especialista em Educação falaram sobre curriculum continuum. A mediação ficou sob a responsabilidade da professora Marli Regina Fernandes da Silva, Dirigente Municipal de Educação de Apucarana (PR) e presidente da Undime PR.
Na ocasião, Marli disse que esse foi um ano atípico em que todos tiveram que se reinventar. “As famílias não tinham conhecimento do quão complexo é o processo de ensino aprendizagem e com essa situação da pandemia e tendo a oportunidade de acompanhar os filhos mais de perto, em casa, tiveram essa noção”. Além disso, citou o Parecer nº 19/2020 do Conselho Nacional de Educação que foi homologado, nesta quinta-feira (10), pelo ministro da Educação. O texto é um reexame do Parecer 15/2020 e permite a adoção de um continuum curricular diante do atual contexto.
A diretora do Instituto Reúna afirmou que, apesar do ano difícil, os municípios trabalharam muito em relação a homologação das propostas curriculares. “A Base Nacional Comum Curricular representa uma causa e a educação é essa causa, a educação de qualidade”, lembrou Katia. Ela destacou ainda a importância da avaliação diagnóstica e da necessidade de entendê-la como um ponto de partida para planejar as ações seguintes.
Ambas as palestrantes ressaltaram nas falas a BNCC como elemento essencial para a educação. “Estamos falando de direito à educação e, por isso, precisamos caprichar ainda mais na implementação desses currículos que saem agora inspirados na Base, que veem com o compromisso de qualidade, de equidade e trazem a dimensão da contemporaneidade”, disse Anna Penido.
A especialista reforçou ainda a importância de um pensamento estratégico a esse respeito. “Sabemos que não vamos conseguir garantir tudo ao mesmo tempo, mas precisamos garantir um mínimo”. Por isso, destacou a necessidade de um processo de acompanhamento e de pensar nas evidências para saber se o currículo está sendo implementando, se a aprendizagem está sendo efetiiva, além de evidenciar as boas práticas.
Sob essa perspectiva, o presidente da Undime, Luiz Miguel Garcia, que acompanhava o debate e fez questão de participar complementou “(…) que bom que temos a BNCC nesse momento, ela permite que a gente tenha condições de garantir que essa geração não tenha lacunas na aprendizagem”.
Garcia fez ainda um apelo aos atuais gestores para que todos deixem um legado, se referindo ao que a Undime tem trabalhado no âmbito do Conviva Educação, o memorial de gestão, documento que o dirigente elabora com o relato das ações ao longo dos quatro anos de gestão para orientar quem vai chegar em 2021. “A Undime lançou um documento com orientações e recomendações aos dirigentes em final de gestão [acesse aqui] que também deve ser consultado. Dirigente, saia com o seu dever cumprido, deixe esse legado. E quem está chegando, conte conosco “.
Fonte: Undime